“A Rússia será católica?” não é a interrogação de um sonhador.
Em Fátima, Nossa Senhora
patenteou predileção por esse país de dimensões imperiais.
Porque Ela deu a entender que a
instauração de seu Reino na terra teria como condição a conversão do mundo
russo ao catolicismo.
Porque quando Nossa Senhora se
manifestou em Fátima, a Rússia estava rompida com a Igreja Católica e era
cismática. Pouco depois se tornaria comunista e o flagelo do demônio voltado
contra os homens.
“Este regime só pode se
explicar como um caso de possessão diabólica coletiva”.
E pediu ao Papa que sugerisse
a todos os sacerdotes e religiosos do mundo que “exorcizassem a Rússia soviética”.
Mons. Andrej Sheptyskyj
faleceu em 1944 e foi beatificado, mas o premente exorcismo jamais foi feito.
(Pe. Alfredo Sáenz S.J., “De la Rusia de Vladimir al hombre nuevo soviético”,
Ediciones Gladius, Buenos Aires, 1989, pp. 438-439).
Entretanto a Providência suscitou
grandes almas que ofereceram suas vidas pela salvação da Rússia. Algumas delas
abandonaram os erros que erodiam o país e se converteram no século XIX e XX,
sem falarmos dos númerosos mártires que há até nos nosso dias.
Elas intuíram com fé e muito
raciocínio que o dia glorioso da conversão da Rússia acabará chegando.
Foi o caso do Pe. Ivan Gagarin,
príncipe russo que ingressou na Companhia de Jesus e é autor de um livro que
fez sensação em sua época: “A Rússia será católica?” (La Russie sera-t-elle
catholique?, Paris, 1856). O professor Roberto de Mattei acaba de lhe
dedicar dois substanciosos artigos em seu site “Corrispondenza Romana”.
Dele tiramos as informações para
este post, a partir de uma tradução da agência
ABIM feita por Helio Dias Viana.
Ivan Sergeevič Gagarin nasceu em
Moscou no dia 20 de julho de 1814, de uma casa principesca descendente dos
príncipes de Kiev.
Foi adido na legação russa em
Munique, e depois na embaixada de Paris, onde amadureceu sua conversão ao
catolicismo.
Em 7 de abril de 1842 abjurou a
religião ortodoxa e abraçou a fé católica pelas mãos do padre François Xavier
de Ravignan (1795-1858), que já obtivera a conversão do conde Šuvalov.
Ivan Gagarin renunciava, aos 28
anos, não só a um brilhante futuro político e diplomático, mas à esperança de
poder retornar à sua pátria.
Com efeito, na Rússia dos Czares a conversão ao catolicismo constituía um delito comparável à deserção ou ao parricídio.
O abandono da ortodoxia por uma
outra religião, ainda que cristã, era punido com a perda de todos os bens, dos
direitos civis e dos títulos nobiliárquicos, e podia dar em reclusão perpétua
em um mosteiro ou exílio na Sibéria.
O governo russo considerou o
príncipe Gagarin como um inimigo a ser eliminado. Ele foi alvo de uma campanha
de calúnias organizada pela Chancelaria Imperial.
O Pe. Gagarin publicou o
livro La Russie sera-t-elle catholique? em 1856. Nele o
sacerdote se refere à solene bula de Bento XIV Allatae sunt, de 26
de julho de 1755, em que o Santo Padre, manifestando “a benevolência com a qual
a Sé Apostólica abraça os orientais”, “ordena que se conservem seus antigos
ritos que não se oponham à Religião Católica nem à honestidade; nem se peça aos
Cismáticos que retornam à Unidade Católica para que abandonem seus ritos, mas
apenas que abjurem a heresia, desejando fortemente que seus diferentes povos
sejam conservados, não destruídos, e que todos (para dizer muitas coisas com
poucas palavras) sejam Católicos, não latinos”.
Para o jesuíta russo, o cisma
ortodoxo é principalmente o resultado do “bizantinismo”, um erro segundo o qual
não há distinção entre os dois poderes, o temporal e o espiritual.
A Igreja é de fato subordinada ao
Imperador, que a dirige enquanto delegado de Deus no campo eclesiástico e no
secular.
Os autocratas russos, como os
imperadores bizantinos, veem na Igreja e na religião um meio do qual servir-se
para garantir e dilatar a unidade política.
Este calamitoso sistema que vem
sendo aplicado hoje por Vladimir Putin se funda em três pilares: a religião
ortodoxa, a autocracia e o princípio da nacionalidade, sob cujo signo
penetraram na Rússia as ideias de Hegel e dos filósofos alemães.
Tal penetração daria na expansão
das ideais comunistas de Marx, e por fim na Revolução bolchevique de Lenine em
1917.
Aquilo que se esconde sob as
palavras pomposas de ortodoxia, autocracia e nacionalidade, “não é senão a
formulação oriental da ideia revolucionária do século XIX” (p. 74), fruto da
Revolução Francesa anticlerical e anticristã, comenta o prof. de Mattei.
Quando em 1848 o vulcão
revolucionário aterrorizava o mundo com seus rugidos e fazia tremer a sociedade
abalada em seus fundamentos, o partido que se dedicou a defender a ordem social
e a combater a Revolução não hesitou em inscrever em sua bandeira Religião,
Propriedade, Família.
“Ele não hesitou em enviar um
exército para restabelecer em sua sede o Vigário de Jesus Cristo, que a
Revolução havia forçado a tomar o caminho do exílio.
Esse partido tinha perfeitamente
razão; está-se em presença de apenas dois princípios: o princípio
revolucionário, que é essencialmente anticatólico, e o princípio católico, que
é essencialmente contra-revolucionário.
“Apesar de todas as aparências
contrárias, só há no mundo dois partidos e duas bandeiras.
De um lado, a Igreja Católica
arvora o estandarte da cruz, que contém o verdadeiro progresso, a verdadeira
civilização e a verdadeira liberdade; de outro, apresenta-se a bandeira
revolucionária, em torno da qual se agrupa a coalizão de todos os inimigos da
Igreja.
“Ora, o que faz a Rússia? De um
lado, combate a Revolução; de outro, combate a Igreja Católica. Tanto externa
quanto internamente, encontrareis a mesma contradição. (...)
“E se ela quiser ser coerente
consigo mesma, se quiser francamente combater a Revolução, tem apenas um
partido a tomar: colocar-se sob o estandarte católico e reconciliar-se com a
Santa Sé” (La Russie sera-t-elle catholique?, Charles Douniol, Paris
1856, pp. 63-65).
A Rússia não atendeu ao apelo do príncipe sacerdote, comenta o prof. de Mattei. A Revolução bolchevique, após ter exterminado os Romanov, difundiu seus erros no mundo.
A cultura abortista e homossexual, que hoje conduz o Ocidente à morte, tem suas raízes na filosofia hegeliano-marxista que triunfou na Rússia em 1917.
A derrota dos erros
revolucionários não poderá ser ultimada, na Rússia e no mundo, senão sob os
estandartes da Igreja Católica.
As ideias do padre Gagarin
inspiraram o barão alemão August von Haxthausen (1792-1866), que com o apoio
dos bispos de Münster e de Paderborn fundou uma Liga de orações
denominada Petrusverein (União de São Pedro) pela
conversão da Rússia.
Associação análoga, sob o impulso
dos padres barnabitas Šuvalov e Tondini, nasceu na Itália e na França. Aos
inscritos nessas associações recomendava-se rezar em todos os primeiros sábados
do mês pela conversão da Rússia.
Em 30 de abril de 1872, Pio IX
concedeu com um Breve indulgência plenária a todos aqueles que, tendo
confessado e comungado, assistissem no primeiro sábado do mês à Missa celebrada
pelo retorno da Igreja Greco-russa à unidade católica.
Nossa Senhora aprovou certamente
essa devoção, pois em Fátima, em 1917, Ela recomendou a prática reparadora dos
primeiros cinco sábados do mês como instrumento da instauração de seu Reino, na
Rússia e no mundo, conclui Roberto de Mattei.
(Autor: Roberto de Mattei, “Corrispondenza romana”, 8-6-2017. Matéria traduzida do original italiano na ABIM por Hélio Dias Viana).
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