Nesta invocação – Sede da Sabedoria – a Ladainha “resume uma
porção de invocações e títulos laudativos, que uma longa tradição da Igreja
atribuiu a Nossa Senhora”.
Sede, trono, morada da Sabedoria, lugar onde Deus gosta de
ficar e repousar. Lugar onde Ele se mostra aos anjos e santos do modo mais
admirável.
Os Santos Padres da Igreja, os santos, os grandes pregadores
rivalizam uns com os outros, chamando a Virgem “trono da graça” Pedro Celestino,
“trono da divina misericórdia” São Bernardino, “trono de safira” São Boaventura,
e assim por diante.
Esses piedosos pregadores não faziam mais do que aplicar a
Maria expressões do Profeta Isaías [16,5], Jeremias [17,12], Ezequiel [5,16].
Trono de Deus, lugar onde a misericórdia, a glória, a santidade de Deus como
que se assenta e se manifesta aos homens.
Aqui, porém, no caso da Ladainha de Nossa Senhora, a Igreja
sintetiza isso tudo no título de Trono da Sabedoria. Não a casa da sabedoria
humana, mas o Trono da Sabedoria Divina.
Quando se procura rastrear no Antigo Testamento a ideia e a
imagem da Sabedoria, a gente percebe que, no final da revelação
veterotestamentária, a Sabedoria deixa de ser simplesmente o pensamento e os
caminhos de Deus, para tornar-se o próprio Deus.
Ela é como um outro Ele mesmo, sua companheira desde as
origens primordiais, antes que as coisas fossem feitas, estabelecida desde os
tempos eternos.
Há uma como ambiguidade nas expressões ainda balbuciantes do
Livro dos Provérbios [8,22-31]. Mas o Sábio nos faz sentir tal intimidade entre
Deus e a sua Sabedoria que é como se os dois fossem uma só coisa, aquela que,
com Ele, fez todas as coisas.
Ela como que se personifica, Ela é Alguém, “é a Palavra
criadora das origens, a Presença pessoal de Deus no meio de seu Povo”.
Louis Bouyer, num livro lindo, chamado “Le trône de la
Sagesse”, chama a atenção para um fato intrigante: Deus viu que o homem não
podia ficar só e lhe deu uma companheira semelhante a ele.
O Criador mesmo, porém, não precisava de uma companheira,
absoluto em sua fecunda solidão. Não obstante, ele quis criar.
E, ao entregar-se à obra criadora, a Escritura mostra nosso Deus, através de todo o seu magnífico trabalho [e o mesmo se repetiria na obra
redentora], acompanhado sempre de “uma misteriosa figura feminina”.
Ele era a Sabedoria; Ela, a sua sede, seu trono. Ele, o
Senhor. Ela, a Senhora. Ele, o nosso Deus. Ela, a morada encantada de Deus. É
como se a Escritura quisesse ensinar. Na hora de ser fecundo, o Princípio
[masculino] pede a companhia da Sabedoria [feminina].
Sim, Maria, Sede da Sabedoria, Ora pro nobis!
Ladainha Lauretana
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