Por três vezes o Anjo da Paz visitou os pastorinhos no ano de 1916. Depois da última aparição, eles começaram a expiar pelos pecadores por meio de sacrifícios e de uma assídua vida de oração.
As aparições de Nossa Senhora em
Fátima foram precedidas por três visões que Lúcia, Francisco e Jacinta tiveram
do Anjo de Portugal, ou da Paz, entre abril e outubro de 1916, em uma colina
próxima da Cova da Iria, denominada Cabeço. Por meio das palavras do Anjo, a
Providência predispunha as crianças para o momento em que a própria Maria
Santíssima lhes falaria.
Algumas manifestações
sobrenaturais antecederam a aparição do Anjo. Lúcia, e mais três outras
meninas, viram pairar, sobre o arvoredo do vale, uma espécie de nuvem alvíssima
com forma humana, “uma figura, como se fosse uma estátua de neve, que os raios
do Sol tornavam ainda mais transparente”, segundo as palavras de Lúcia. Em dias
diferentes, esta aparição se repetiu duas vezes.
Um jovem resplandecente e de grande beleza
Foi na Loca do Cabeço que, num
dia de primavera de 1916, o Anjo apareceu pela primeira vez. Depois de rezar,
as crianças estavam brincando quando um forte vento sacudiu as árvores. Elas
veem, então, caminhando sobre o olival em sua direção, um jovem resplandecente
e de grande beleza, aparentando ter 14 a 15 anos, de uma consistência e um
brilho como o do cristal atravessado pelos raios do Sol. Segundo narra a irmã
Lúcia, o Anjo, ao chegar junto delas, disse:
– Não temais! Sou o Anjo da Paz.
Orai comigo.
E, ajoelhando em terra, curvou a
fronte até o chão e as fez repetir três vezes estas palavras:
– Meu Deus! Eu creio, adoro,
espero e amo-Vos! Peço-Vos perdão para os que não creem, não adoram, não
esperam e não Vos amam.
Depois, erguendo-se, disse:
– Orai assim. Os Corações de
Jesus e Maria estão atentos à voz das vossas súplicas – e desapareceu.
“A atmosfera de sobrenatural que
nos envolveu”, relata a irmã Lúcia, “era tão intensa que quase não nos dávamos
conta da própria existência por um grande espaço de tempo, permanecendo na
posição em que nos tinha deixado, repetindo sempre a mesma oração. A presença
de Deus sentia-se tão intensa e íntima que nem mesmo entre nós nos atrevíamos a
falar. No dia seguinte, sentíamos o espírito ainda envolvido por essa atmosfera
que só muito lentamente foi desaparecendo”.
“Jesus e Maria têm sobre vós
desígnios de misericórdia”
No verão de 1916, quando os três
pastorinhos brincavam no terreiro da casa dos pais de Lúcia, aparece-lhes
novamente o Anjo. Ele lhes diz, segundo a narração da irmã Lúcia:
– Que fazeis? Orai! Orai muito!
Os Corações Santíssimos de Jesus e Maria têm sobre vós desígnios de
misericórdia. Oferecei constantemente ao Altíssimo orações e sacrifícios.
– Como nos havemos de sacrificar?
– perguntou Lúcia.
– De tudo o que puderdes,
oferecei a Deus sacrifício, em ato de reparação pelos pecados com que Ele é
ofendido, e de súplica pela conversão dos pecadores. Atraí assim sobre a vossa
pátria a paz.1 Eu sou o Anjo da sua guarda, o Anjo de Portugal. Sobretudo,
aceitai e suportai com submissão o sofrimento que o Senhor vos enviar – e
desapareceu.
Como depois da primeira aparição
do Anjo, também desta vez as crianças ficaram um tempo numa espécie de êxtase.
Preparados para as aparições de Nossa Senhora
No fim do verão ou princípio do
outono do mesmo ano deu-se a última aparição do Anjo, novamente na Loca do
Cabeço, conforme descreveu a irmã Lúcia:
“Depois de termos merendado,
combinamos ir rezar na gruta, que ficava do outro lado do monte. […] Logo que aí
chegamos, de joelhos, com os rostos em terra, começamos a repetir a oração do
Anjo: Meu Deus! Eu creio, adoro, espero e amo-Vos, etc. Não sei quantas vezes
tínhamos repetido esta oração, quando vemos que sobre nós brilha uma luz
desconhecida. Erguemo-nos para ver o que se passava, e vemos o Anjo tendo na
mão esquerda um cálice, sobre o qual está suspensa uma Hóstia, da qual caem
algumas gotas de Sangue dentro do cálice”.
Deixando o cálice e a Hóstia
suspensos no ar, o Anjo prostrou-se em terra junto às crianças e fê-las repetir
três vezes a oração:
“Santíssima Trindade, Pai, Filho,
Espírito Santo, ofereço-Vos o preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de
Jesus Cristo, presente em todos os sacrários da Terra, em reparação dos ultrajes,
sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E pelos méritos
infinitos de seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a
conversão dos pobres pecadores”.
Depois, levantando-se, deu a
Hóstia a Lúcia, e o cálice, deu-o a beber a Francisco e Jacinta, dizendo:
– Tomai e bebei o Corpo e o
Sangue de Jesus Cristo, horrivelmente ultrajado pelos homens ingratos! Reparai
os seus crimes e consolai o vosso Deus.
E prostrando-se de novo em terra,
repetiu com eles outras três vezes a mesma oração: “Santíssima Trindade, etc.”,
e desapareceu.
Eles permaneceram na mesma
atitude, repetindo sempre as mesmas palavras. Quando se ergueram, viram que era
noite e voltaram para casa.
A sensação da presença de Deus
nessa última aparição foi maior do que nas anteriores. Daquele momento, as
crianças começaram a expiar pelos pecadores por meio de sacrifícios e de uma
assídua vida de oração. A Providência os preparava para as aparições de Maria
Santíssima que haveriam de marcar a História.
(Transcrito, com adaptações, de:
CLÁ DIAS, EP, João Scognamiglio; Fátima. O meu Imaculado Coração triunfará!) –
Revista Arautos do Evangelho, junho/2016, n. 174, pp. 24-25)
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