O Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, capítulo II
Verdades Fundamentais da Devoção a Maria
Jesus Cristo é
o Fim Último da Devoção à Virgem Maria
Jesus Cristo deve ser o fim último de todas as nossas devoções;
senão elas seriam falsas e enganadoras. Jesus é o alfa e o ômega, o princípio e
o fim de todas as coisas. Não nos foi dado, debaixo do Céu, outro Nome pelo
qual devemos ser salvos, senão o Nome de Jesus.
Se, pois, estabelecemos a sólida Devoção à Santíssima Virgem, é
para mais perfeitamente estabelecer a Devoção a Jesus Cristo, e para das às
almas um meio fácil e seguro de encontrá-Lo. Se a Devoção à Santíssima Virgem
nos afastasse de Jesus Cristo, deveríamos rejeitá-la como uma ilusão do diabo.
Mas, muito pelo contrário, esta Devoção é indispensável para encontrarmos
perfeitamente Jesus Cristo, para que possamos amá-Lo ternamente e servi-Lo com
fidelidade.
Pertencemos a
Jesus e a Maria na qualidade de Escravos
Devemos concluir, do que Jesus Cristo é pra nós, que - como diz
São Paulo - não somos nossos, mas inteiramente d'Ele, como Seus membros e
escravos, que Ele comprou pelo preço infinitamente cara de todo o seu sangue
(1Cor 6, 19-20).
Há três tipos de escravidão: uma por natureza, uma forçada e outra
voluntária. Todas as criaturas são escravas de Deus da primeira forma: “Ao Senhor
pertence a Terra e tudo o que nela está contido (Sl 23,1). Os demônios e os réprobos
pertencem à segunda categoria. Os justos e os santos à terceira. A escravidão voluntária
é mais perfeita e mais gloriosa para Deus, que olha o coração (1Rs 16,7).
Nada há, entre os homens que mais nos faça
pertencer a outrem, do que a escravidão. Da mesma forma, não há nada que nos
faça pertencer mais absolutamente a Jesus Cristo e à sua Santa Mãe, do que a escravidão
voluntária. Isto é conforme o exemplo do próprio Jesus, que tomou a forma de
escravo por amor (Fl 2, 7), e da Santíssima Virgem, que se disse serva e
escrava do Senhor (Lc 1, 38).
Podemos, portanto, segundo o parecer dos
santos e de vários homens ilustres, dizer-nos e fazer-nos escravos amorosos da
Santíssima Virgem, para deste modo sermos mais perfeitamente escravos de Jesus
Cristo.
Devemos
esvaziar-nos do que há de mau em nós
Quando se põe a água limpa e clara numa vasilha
que cheira mal, a água clara fica estragada e absorve facilmente o mau cheiro.
Do mesmo modo, quando Deus infunde em nossa alma, corrompida pelo pecado
original e atual, as suas graças e orvalhos celestes, ou o vinho delicioso do
seu Amor, assim também os Seus dons são ordinariamente manchados e estragados pelo
mau fermento e fundo de maldade que o pecado deixou em nós.
É, pois, da mais alta importância, para
adquirir a perfeição – que só se alcança pela união com Jesus Cristo –, esvaziarmo-nos
do que há de mau em nós.
Precisamos
de um mediador junto a Jesus Cristo
É mais perfeito, porque mais humilde, não nos
aproximarmos diretamente de Deus, mas sirvamo-nos de um mediador. Nosso Senhor
é nosso Advogado e Medianeiro de Redenção junto de Deus Pai. Mas, não teremos
necessidade de um mediador junto de nosso próprio Medianeiro?
Digamos, pois, com São Bernardo, que temos
necessidade de um mediador junto do próprio Medianeiro, e que Maria Santíssima
e a pessoa mais capaz de desempenhar essa caridosa missão.
Contínua
em outro post.
Tradução do original em francês: Traité de la
Vraie Dévotion a la Sainte-Vierge, par le vénérable serviteur de Dieu,
Louis-Marie Grignion de Montfort, troisième, Gaume Frères libraires-èditeurs,
1846.
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