O Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, capítulo VI

CAPÍTULO VI
Práticas particulares desta Devoção

Práticas exteriores



1. Consagração depois dos exercícios preparatórios




      Aqueles que quiserem seguir essa Devoção, primeiro dedicarão no mínimo doze dias a esvaziar-se do espírito do mundo, contrário ao de Jesus Cristo. Depois dedicarão três semanas em encher-se de Jesus Cristo, por meio da Santíssima Virgem. Eis a ordem que se pode observar:

          Durante a primeira semana, oferecerão todas as suas orações e atos de piedade para pedir conhecimento de si mesmo e a contrição de seus pecados. Pedirão a Nosso Senhor, e ao Divino Espírito Santo, que os esclareça, repetindo as palavras: "Senhor, que eu veja!" (Lc, 18, 41) ou: "Que eu me conheça!" ou: "Vinde, Espírito Santo!" Rezarão todos os dias a Ladainha do Espírito Santo. E recorrerão à Santíssima Virgem, pedindo-lhe essa grande graça, que deve ser o fundamento de todas as outras. Para isso dirão todos os dias "Ave Maris Stella" e a Ladainha de Nossa Senhora.

        Na segunda semana se dedicarão, a conhecer a Santíssima Virgem. Pedirão esse conhecimento ao Espírito Santo, podendo ler e meditar o que sobre isso dissemos. Rezarão, como na primeira semana, a Ladainha do Espírito Santo e o "Ave Maris Stella", ajuntando um Rosário cada dia, ou pelo menos um Terço, por esta intenção.

                Dedicarão a terceira semana em conhecer Jesus Cristo. Poderão dizer e repetir mil vezes ao dia: "Senhor, que eu vos conheça!" ou então: "Senhor, vazei que eu veja quem sois Vós!" Rezarão, como nas semanas precedentes, a Ladainha do Espírito Santo e o "Ave Maris Stella", e acrescentarão todos os dias a Ladainha do Santíssimo Nome de Jesus.

               No fim destas três semanas se Confessarão e Comungarão com a Intenção de se dar a Jesus Cristo na qualidade de Escravos de Amor, pelas Mãos de Maria. E depois da Comunhão, dirão a Fórmula da Consagração. Deverão escrevê-la ou mandá-la escrever, se não estiver impressa, e assinala no mesmo dia em que a fizerem.

               Será bom que, nesse dia, pagam algum tributo a Jesus Cristo e a sua Santíssima Mãe, quer como penitência da sua passada infidelidade às Promessas do Batismo, quer para atestar a sua dependência do domínio de Jesus e de Maria. Poderá ser um Jejum, uma Mortificação, uma Esmola, uma Vela. Ainda que não dessem mais que uma homenagem de um alfinete, mas de todo o Coração, isso bastaria, pois Jesus olha só a boa vontade.

              Uma vez por ano, pelo menos, renovarão a Consagração, no mesmo dia em que a fizeram, observando as mesmas práticas durante três semanas. 

2. A Coroinha da Santíssima Virgem

              Rezarão todos os dias de sua vida, mas sem a isso se obrigarem, a Coroinha da Santíssima Virgem. Essa se compõe de três Pai-Nossos e doze Ave-Marias, em Honra dos Doze Privilégios e Grandezas da Santíssima Virgem. 

3. Uso das Pequenas Correntes de Ferro
               É muito louvável para aqueles e aquelas que assim se fazem Escravos de Jesus em Maria, que usem umas Cadeiazinhas de ferro. Estas serão um Sinal da sua Escravidão de Amor, e serão Bentas com uma bênção própria.

                 Estas Correntes são mil vezes mais preciosas, embora de ferro sem brilho algum, que todos os colares de ouro dos imperadores. Elas nos livram e preserva-nos dos infames laços do pecado e do demônio.

4. Devoção Especial ao Mistério da Encarnação

                Terão especial devoção ao grande Mistério da Encarnação do Verbo, celebrado no dia 25 de março, no qual se pode ver Jesus em Maria, Encarnado no seu seio. Por isso vem mais a proposito dizer Escravidão de Jesus em Maria, Jesus Habitando e Reinando em Maria.

5. Grande Devoção pela Ave-Maria e pelo Rosário

Saudação Angélica
Terão muita Devoção em rezar a Ave-Maria, ou Saudação Angélica.

Poucos cristãos, embora esclarecidos, conhecem o valor, o mérito, a excelência, e a necessidade desta oração. Foi preciso que a Santíssima Virgem aparecesse repetidas vezes a grandes Santos muito esclarecidos, para lhes mostrar o mérito desta Devoção.

A Oração do Rosário
Os que trazem o sinal da condenação, como todos os hereges, os ímpios, os orgulhosos e os mundanos odeiam e desprezam a Ave-Maria e o Terço.

Pelo contrário, a experiência tem mostrado que aqueles e aquelas que apresentam grandes sinais de predestinação amam, saboreiam e rezam com prazer a Ave-Maria, e que quanto mais são de Deus, tanto mais amam esta oração.

Rogo-te instantemente, pelo amor que te tenho em Jesus e Maria, que rezes o Terço todos os dias, e mesmo, se tiveres tempo, o Rosário. Se o fizeres, bendirás na hora da morte o dia e o momento em que me acreditaste. Depois de teres semeado nas bênçãos de Jesus e Maria, recolherás bênçãos eternas no Céu: "Aquele que semeia nas bênçãos, bençãos recolherá também" (2Cor 9, 6).

6. O Magnificat

                 As almas escolhidas dirão muitas vezes o Magnificat, a exemplo da Bem-aventurada Maria de d'Oignies e de vários outros santos. É a única oração e a única composição da Santíssima Virgem, ou, antes, que Jesus compôs n'Ela, pois Ele falava pela sua boca.

7. O desprezo do mundo

            Os fiéis servidores de Maria devem desprezar, odiar e fugir muito do mundo corrupto, e servir-se das práticas de desprezo do mundo.

PRÁTICAS PARTICULARES E INTERIORES 

               Além destas práticas exteriores, há ainda práticas interiores, muito santificantes para aqueles que o Espírito Santo chama a uma alta perfeição. Consistem em fazer todas as ações por Maria, com Maria, em Maria e para Maria, a fim de mais perfeitamente as fazer por Jesus Cristo, com Jesus Cristo, em Jesus e para Jesus.

1. Fazer tudo por Maria

            Devemos obedecer em tudo à Santíssima Virgem, e conduzir-nos em tudo pelo seu espírito, que é o Espírito Santo de Deus. 

A fim de que uma alma se deixe conduzir por este espírito de Maria, é preciso:
Renunciar ao seu próprio espírito, às suas próprias luzes e vontades antes de fazer qualquer coisa. Porque  as trevas do nosso espírito próprio e a malícia da nossa vontade e obras poriam obstáculos ao santo espírito de Maria se as seguíssemos, embora nos parecessem boas.
Entregar-se ao espírito de Maria para ser movido e conduzido do modo que ela quiser. O que se faz tão simplesmente num instante por um olhar do espírito, um pequeno movimento da vontade, ou verbalmente, dizendo por exemplo: 


"Renuncio a mim mesmo e dou-me a Vós, ó minha querida Mãe!"

Renovar este mesmo ato de oferecimento e de união, de tempos em tempos, durante uma ação ou depois dela.


2. Fazer tudo com Maria


          É necessário fazer todas as ações com Maria. É preciso que consideremos, em cada ação, o modo como o qual Maria a fez ou faria se Ela estivesse no nosso lugar.


3. Fazer tudo em Maria


          Fazer tudo em Maria é a recompensa que o devoto obtêm por ter posto em prática o 'por' e o 'com' Maria. Fazer tudo em Maria é sentir a presença amorosa de Nossa Senhora em nossas vidas.


4. Fazer tudo para Maria


          Devemos, finalmente, fazer todas as ações para Maria. Não que a tomemos como fim último dos nossos serviços, pois só Jesus Cristo o é. Mas tomamo-la como fim próximo, como meio misterioso e fácil para ir a Ele.


        É preciso atrair todo o mundo, se for possível, ao seu serviço, e a esta Verdadeira e Sólida Devoção. É preciso falar e clamar contra os que abusam da sua Devoção para ultrajar seu Filho, e, ao mesmo tempo, estabelecer esta Verdadeira Devoção. É preciso pretender apenas, como recompensa destes pequenos serviços, a honra de pertencer a tão amável Princesa, a felicidade de sermos por Ela unidos a Jesus, seu Filho, com um laço indissolúvel, no tempo e na eternidade.


       Aqui encerramos, todos os resumos do Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem Maria. Esperamos ter ajudado aos nossos inúmeros leitores de nosso blogue a mergulhar nessa belíssima devoção deixada por São Luís Maria Grignion de Montfort e vivida por tantos de nosso tempo, desde jovens a anciãos.




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Tradução do original em francês: Traité de la Vraie Dévotion a la Sainte-Vierge, par le vénérable serviteur de Dieu, Louis-Marie Grignion de Montfort, troisième, Gaume Frères libraires-èditeurs, 1846.

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